segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cousas e Causos: O dia que é depois de ontem e antes de amanhã

Um menino e uma menina
Discutiam fervorosamente
A respeito do dia que é
Depois de ontem e antes de amanhã.
Ela dizia que era Today
E ele, Aujourd´hui.
A questão ficou séria,
E os dois já à beira do
Ódio recíproco.
Mas há Ódios que vêm para o Amor.
Mais ou menos por ai apareceu um adulto,
Que era professor, explicando
Que os dois estavam certos
E que tanto fazia como deixava de fazer.
O menino e a menina, então
Trataram logo de arrumar
Outra questão
Que sustentasse a relação.
Ai, eles cresceram.
E se tornaram adultos.
Depois ficaram velhinhos.
E até hoje discutem fervorosamente
Sobre qualquer coisa.
Que é pra não deixar morrer
O menino e a menina que moram
Dentro deles dois.
- Zé, café assim de mais faz mal!
- Mal? Mal faz é não tomar café, Maria.
E eles têm sido bem felizes
Para sempre.


Cousas e Causos: O Casamento do Poeta

Era uma vez um Poeta,
E o Poeta queria casar.
E, ai, apareceu uma Moça,
E a Moça era tão bonita!
E o Poeta gostou da moça,
E a Moça gostou do Poeta,
E os dois deram até beijinho.
E o Poeta percebeu
Que a Moça não era a noiva que ele queria,
Porque, de repente, apareceu uma Poetisa.
E a Poetisa encantou o Poeta,
E o Poeta e a Poetisa resolveram casar.
E a Moça foi pro casamento
E disse que não iria chorar.
Ai Moça pegou o buquet.
E um Moço, que era padrinho do noivo
E solteiro, se encantou pela Moça
E pediu a Moça em casamento.
E ela aceitou
E toda emocionada, até chorou.
E a Moça e o Moço também casaram
E, ai, todo mundo saiu feliz!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Beijo

Nenhuma boca
Beija outra boca
Como tua boca
Beija a minha,

Tua boca
Beija minha boca
Como só tua boca
O faz.

Nossas bocas
Se confundem,
Se emaranham,

Se misturam.
Tua boca é minha boca,
E (minha boca...) minha boca é tua.

FORTALEZA, 45 DE ABRIL DE 2010.
Arimatéia Moura Filho

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Palíndromo do Ari

Amar-te, amor, em Meroma é trama.'

Nada de muito especial, apenas um palíndromo. Meroma, um lugar para onde eu posso ir-me embora qualquer dia desses.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Apartamento

Esse texto é de 25 de novembro de 2008, o original está em www.ariareia.blogspot.com - por sinal, meio abandonado aquele blog - como minha última postagem lá foi um texto daqui resolvi trazer um de lá pra cá. Reformulado, na minha opinião, melhorado: Apartamento.

Pela janela aberta daquele décimo andar, se alguém pudesse olhar de fora para dentro, veria uma mesa redonda num espaço que, provavelmente, seria uma sala de jantar. Perceberia, pela janela, um ambiente simples, sem muito ornamento, embora pertencesse a uma mulher (O que ficava claro por conta daquela toalha quadriculada em tons diferentes de vermelho sobre um fundo alvo, com um jarro de flores amarelas e brancas em cima, e por causa dos dois pratos e talheres para duas pessoas dispostos, à la buffet, sobre a mesa redonda com aquela toalha quadriculada). Era a casa dela sim, mas, talvez, fosse dele também, dos dois. Quem seriam eles? Os dois seriam estranhos ao observador aéreo e não se dariam a conhecer em momento algum, pois estariam em outro cômodo, a que aquela janela não dava acesso visual. E nada mais se veria, mesmo que o observador, supostamente alado, mudasse de ângulo à la volonté. Todo o resto era somente aquela sala de jantar vazia por onde ecoava ama voz da mulher vinda de algum lugar, do apartamento:
- Gerard, diz que você não quis dizer o que disse, diz. Olha para mim, Gerard...
Fala que ainda me ama e repete aquele galanteio que eu adoro: 'Simone, mon amour...'
Ei, olha para mim por favor! Lembra daquele dia? O nosso dia!? Ficamos, nós dois, aqui sozinhos a tarde inteira enquanto lá fora chovia, eu adorei ficar assim com você.
Gerard, olha para mim!!! O que foi que aconteceu, heim? Ou quem foi que...
Chega. Eu já entendi...

Como é que você fez uma coisa dessas comigo? Eu fui tão idiotamente passional com você, Gerard, passei a viver em sua função, passei a depender organicamente de você, seu cafajeste! Vá embora, vá. Era tudo mentira, não é: 'Simone mon amour', tudo mentira.
Pára! Eu não pedi que você enxugasse minhas lágrimas.
Sai, não quero que me beije.
Gerard, não me segura assim... Gerard... Gerar... Fica Gerard, fica...
- Não dá mais, Simone. Acabou...
O pianista dedilha de forma espaçada, mas forte, enquanto a voz tremula e chorosa de mulher balbucia:
"Ne me quitte pas... Ne me quitte pas... Ne me quitte pas..."

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Crônico.

Expressei-me tão mal durante aquela nossa última conversa que estou sem saber como tecer o reajuste textual para o engodo que criei. Pode até ser que eu me complique mais com isto que vou dizer, mas vou falar que é para você ter uma noção sobre como eu estou: Sinto-me tal qual uma aranha-fêmea que, depois do enlace amoroso, mata seu parceiro – e eu nunca tinha matado ninguém, até então; não minto quanto a isso. No entanto, diferente da aranha, eu sinto um remorso, sabe. Não pelo que fiz, mas pela forma como narrei o feito.
Até porque a Falecida mereceu o fim que lhe foi dado, não por mim, pela força dos instintos aracnídeo-femininos que se insurgiram nesta minha natureza humano-masculina. Embora eu não a tenha destrinchado para dar de comer à ninhada, que nem ninhada existiu no nosso caso, eu destrocei a carne dela, osso por osso, músculos e ligamentos, arranquei-lhe os cabelos, os beiços, os dentes, os olhos - em uma linguagem menos escatológica - eu desconstruí o mito que, a punho próprio, criei sobre a Dita Cuja, a Pessoa, Aquela Lá, a Falecida...
"Não se refira assim quanto a mais ninguém, está me ouvindo?" Tudo bem, mãe, foi só um acesso de irA, mas já passou. E foi importante para mim vomitar isso tudo, estou um tanto menos aranha, mais garoto. Ufa, estou de volta! Inclusive, até encontrei a Moça, num coletivo, semana passada, viva.... Para você vê como as coisas são.
E decidi: não pretendo matar mais ninguém, juro! Isso só aconteceu dessa vez porque ela quis sufocar a minha garganta, quis jogar-me dentro de um mundo fantasioso, redomado – como um pote de Nescafé – e fechar a tampa deixando que eu asfixiasse até o fim. Talvez seja mais doce morrer no mar que fechado dentro de um pote de Nescafé. Ah, e como eu ando confuso em relação a algumas coisas ultimamente, não sei se você entenderia, ou se se importaria, então nem vou tentar explicar. Mas não tenho feito muitos planos atualmente, nem sequer tenho refeito os planos velhos, mofados já do tempo, os que ficam em gavetas de algum criado-mudo.

Seria bom que os criados-mudos falassem de vez em quando! Mas seria revolucionário de mais ou, ao menos, paradoxal de mais: criados-mudos falantes. Acho melhor parar um pouco, estou ficando com dor de cabeça. Essa coisa de ‘criados-mudos que falam’ e ‘canibalismo entre as aranhas’ foi de mais para mim.
Aceita um café?

Gentil D´lavôr
Cusco, Peru
34 de janeiro de 3050

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Atelier

Faça planos para mim
Se isso te faz mesmo bem.
Para não fantasiar,
Use apenas preto e branco.

Mas, querendo, fantasie!
Dê mais vida a esses traços,
Jogue tinta colorida:
Pinte... mãos entrelaçadas,

Deite o céu inteiro a baixo,
Deixe o chão todinho azul,
- Reinvente a paisagem -

Para lá pôr versos teus,
Os que ainda eu não te disse,
Risque retas entre as nuvens.